O acesso à educação superior continua sendo um desafio no Brasil, especialmente para jovens de baixa renda que encontram obstáculos financeiros para ingressar e permanecer em instituições privadas. Nesse cenário, o crédito estudantil aparece como uma solução promissora, e os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) surgem como instrumentos eficazes para viabilizar esse modelo de financiamento. Segundo Rodrigo Balassiano, especialista em estruturação de fundos e financiamento educacional, esse tipo de fundo representa uma alternativa relevante ao financiamento público, conectando investidores a uma nobre causa social com retorno financeiro.

A evolução dos FIDCs voltados para crédito educacional tem permitido que instituições de ensino antecipem receitas e ampliem o acesso ao ensino superior por meio de condições facilitadas de pagamento. Ao transformar contratos de mensalidades em ativos passíveis de investimento, os FIDCs operam como pontes entre a demanda social por educação e os interesses do mercado de capitais. Essa união pode não apenas ampliar o número de estudantes beneficiados, mas também garantir mais sustentabilidade ao setor educacional privado.
Crédito estudantil como ativo estruturado: vantagens e desafios
Os FIDCs de crédito estudantil são estruturados com base nos recebíveis educacionais, como contratos firmados entre estudantes e instituições de ensino. Esses contratos são cedidos ao fundo, que passa a geri-los como ativos e a distribuir cotas para investidores interessados em apoiar a educação com retorno ajustado ao risco. Rodrigo Balassiano explica que, embora o perfil dos estudantes represente um risco de crédito mais elevado em comparação a empresas tradicionais, a modelagem do fundo pode ser feita com mecanismos de mitigação bastante eficazes.
Entre os mecanismos de proteção, destacam-se a análise criteriosa do perfil socioeconômico do aluno, a projeção de empregabilidade pós-formatura, e a parceria com fintechs educacionais que permitem acompanhamento digital e cobrança adaptativa. A personalização dos contratos, incluindo carência no pagamento e escalonamento de parcelas conforme a renda futura, contribui para a sustentabilidade financeira do fundo e reduz os índices de inadimplência. A governança, nesse contexto, também é essencial: o regulamento do fundo deve prever critérios objetivos para a seleção de contratos, bem como auditorias regulares e transparência na prestação de contas.
Do ponto de vista do investidor, o crédito estudantil apresenta uma característica peculiar: seu retorno está diretamente ligado ao sucesso educacional e profissional do estudante. Isso confere um caráter híbrido ao investimento, unindo responsabilidade social e viabilidade financeira. Rodrigo Balassiano ressalta que esse perfil pode atrair especialmente investidores institucionais com metas ESG, que buscam alocar recursos em projetos com impacto social mensurável.
Além disso, os FIDCs voltados ao setor educacional oferecem oportunidades para diversificação de carteira e acesso a um segmento de ativos menos correlacionado aos ciclos econômicos tradicionais. Ainda assim, é necessário acompanhar de perto as mudanças regulatórias e a evolução do mercado de ensino superior no Brasil, sobretudo no que se refere à digitalização do ensino, à demanda por cursos técnicos e à integração entre empresas e instituições educacionais.
Considerações finais
Os FIDCs com foco em crédito estudantil representam uma alternativa robusta e inovadora para ampliar o acesso ao ensino superior no Brasil. Estruturados de forma responsável e com critérios técnicos rigorosos, esses fundos podem unir retorno financeiro à significativa transformação social. O especialista Rodrigo Balassiano destaca que o sucesso dessa modalidade depende da colaboração entre instituições de ensino, investidores, reguladores e empresas de tecnologia, criando um ecossistema saudável para o financiamento educacional. Em um país com muitas desigualdades de acesso ao conhecimento, fomentar esse tipo de instrumento pode ser decisivo para o desenvolvimento do capital humano e a construção de um futuro mais justo.
Autor: Mikesh Tok